terça-feira, 29 de maio de 2007

Girassol

Estava procurando uma imagem para ver se ela traria consigo a inspiração e as palavras que eu precisava para escrever um texto; não sei se essa aí é a mais indicada de todas, porém, de algum modo, ela vai servir para ilustrar bem. Nem era bem uma flor que eu procurava, era sim uma pessoa olhando o mar ou o por do sol, ou (e de preferência) as duas coisas juntas, curiosamente não achei nenhuma que me agradasse e decidi procurar aleatoriamente uma imagem, encontrei o girassol.

Pela primeira vez no dia essa imagem simples fez brotar em meus lábios um sorriso, uma sensação de bem estar e ficou claro como água que era preciso usar o girassol nas minhas comparações. Às vezes, não é sempre, gosto de usar coisas simples para explicar outras mais complexas, ou sentimentos na maior parte das vezes; quem sabe assim as soluções não aparecem mais facilmente?

O fato é que olhando para a figura do girassol comecei a devanear a respeito do que ele significava para mim, do que eu sabia sobre ele e cheguei a conclusão que de fato, não sei nada a respeito dele, ou quase nada, mas deixemos isso para daqui a pouco. O que eu soube na hora, era a impressão que ele me causava, a forma como ele me afetava que é mais ou menos assim: sempre achei o Girassol uma flor bonita, não a mais bonita de todas, mas imponente de alguma forma, até majestoso, é impossível passar por um único girassol – pode ser até numa dessas barraquinhas de flores da rua – e não notar a sua presença lá; então o girassol atrai olhares para si, mais que isso, provoca a proximidade; por ser uma flor grande, atrai milhares de insetos que tiram dele o seu sustento verdadeiramente.

Seguindo essa mesma linha de raciocínio, ele também não é uma flor solitária, nunca se vê na natureza apenas um girassol perdido no meio do campo, ele está sempre rodeado por outros iguais à ele. Iguais e distintos ao mesmo tempo, pois nenhum deles é igual ao outro, cada um tem uma particularidade, uma marca, um que quer que seja que o torna único e especial. É uma habilidade incrível, até porque, nunca se vê um girassol próximo demais de outro, nem longe demais também; ele sabe a distância exata que deve ficar: o suficiente para permitir que o outro se desenvolva por si mesmo, que crie raízes, que tenha sua própria vida e liberdade; por outro lado, ele nunca se afasta demais do seu “companheiro” do lado dando-lhe apoio, conforto e suprindo suas necessidades e carências muitas das vezes. Em resumo, o girassol sabe respeitar!

Só tem uma coisa que eu sei sobre o girassol e é precisamente o que mais me impressiona nele; apesar de ter suas raízes na terra, ele não está verdadeiramente preso, ele é capaz de girar em torno de si mesmo quantas vezes quantas forem necessárias em busca do sol. Ele está sempre voltado para o que lhe dá luz, calor, condições de sobrevivência, alegria, enfim, o girassol nunca está perdido; ele sempre sabe exatamente para onde se voltar, o que buscar, o que lhe faz bem, o que lhe faz produtivo, o que lhe faz vivo.

O girassol nunca está perdido! Não me entenda mal, mas agora me deu inveja do girassol, porque nós, seres humanos, muitas vezes passamos a vida tentando encontrar as mais variadas coisas: Deus ou uma Força Superior (seja qual for o nome dado); amigos; companheiros, amores; mas acima de tudo, tentando encontrar a nós mesmos.

Duvido mesmo que alguém passe a vida toda sem que ao menos uma dessas questões lhes passem pela cabeça, sem que se busque qualquer uma dessas coisas. E quando menos se espera ou quando menos se precisa, é justamente quando somos acometidos por uma dessas “crises existenciais”, onde nos misturamos ao campo de girassóis e não conseguimos nos definir ou nossa localização.

É aí também que procuramos a ajuda daquele girassol que esta mais próximo, o que é de fato uma faca de dois gumes, se esse não souber distinguir que precisamos de um apoio e não que ele faça por nós mesmos, se ele não souber dar o nosso espaço para que possamos nos desenvolver, corremos o risco de nos tornar deficientes de afetos, de emoções, de atitudes, em vários sentidos, pode fazer com que falte uma parte de nós mesmos.

De tudo isso o que eu acho importante é que aprendamos com os girassóis a ter sim nossas raízes aprofundadas, se voltarmos para nós mesmos e buscarmos o que era importante para nós quando criança, acharemos também a base e o fundamento de nossas raízes; entretanto a criança evolui e assim como o girassol deve voltar-se para o que lhe dá vida, para o que lhe faz bem, independente de quantas vezes seja necessário que se dê essa volta a cerca de nós mesmos. É preciso aprender a ter a humildade do girassol.

Também precisamos aprender que nunca seremos uma flor sozinha no campo, sempre haverá aqueles ao nosso redor e que da mesma forma que somos diferentes entre nós mesmos, assim também somos semelhantes e carentes uns dos outros. E seremos muito importantes na vida desses próximos, ainda que, por circunstâncias da vida, não cheguemos a saber disso; por vezes é daqueles que menos esperamos que vem as mais doces palavras e o mais sólido apoio, por isso a recíproca também é verdadeira e os próximos serão sempre importantes na nossa vida. É necessário que aprendamos que somente com respeito, apenas quando soubermos dar espaço e, ao mesmo tempo, proximidade, ambos na medida certa; que tenhamos sabedoria o suficiente para distinguir que podemos apoiar o outro, mas nunca andar por ele; aprenderemos a arte do bem viver, assim como o girassol a pratica.

Acho que da mesma forma que o girassol atrai para si, mesmo sem querer, olhares, coisas e pessoas; assim também não podemos nos esquivar dos olhares, coisas e pessoas que atraímos sob pena de perdermos a nós mesmos. É nos assumindo como somos e buscando para nós as qualidades e lições singelas dessa simples flor que encontraremos o caminho para nossas realizações e anseios mais profundos.

Fica aqui o convite, para uma reflexão maior e mais profunda, para que ache em si mesmo suas próprias comparações, a força do girassol e seu próprio sol.

domingo, 20 de maio de 2007

Roda Gigante

Sabe aquela sensação de estar no alto da Roda Gigante, de olhos fechados e pensando em milhares de coisas, mas uma frase em especial não sai de sua mente: “Por que eu resolvi subir nessa geringonça?!”; daí como se já não fosse pouco, seu estômago resolve te lembrar, naquele exato momento, que ele existe e que aquele cachorro-quente que você comeu alguns minutos atrás, agora não parece tão gostoso.

Afinal você sabia muito bem que tinha medo de altura, que não confiava naquele bando de ferros presos apenas pelo centro, aquelas vigas eram pequenas e fracas para segurar uma coisa tão grande e pesada, ainda mais agora com milhares de pessoas lá, sentada em cadeirinhas que balançam conforme o movimento. E essa música irritante? Será que essa é uma máquina de tortura onde as pessoas, lerdas como nós, voluntariamente ingressam?

Mas daí alguma coisa acontece, por um instante quando você acha que tudo está perdido e que não seria surpresa agora se aquela “trava de segurança” abrisse e você fosse vomitado para fora da cadeirinha-dançante, um toque quente e macio na sua mão (que, diga-se de passagem, estava uma pedra de gelo) faz o mundo dar uma pausa; todos aqueles questionamentos desaparecem e tudo o que você sente é aquele toque e a brisa que teima em bagunçar seus cabelos.

Daí uma voz, mas não uma voz qualquer, uma voz amiga e consoladora, velha conhecida se faz ouvir:

- Heyy sua boba, não vai abrir os olhos?

Começa então uma verdadeira luta interna entre o que você deve fazer (abrir os olhos) e aquilo, que você jura por tudo que lhe é mais sagrado, que não é capaz de fazer. E todos aquelas perguntas sem resposta de antes, as sensações... enfim, tudo que você sabe que é perfeitamente explicável e que se analisado friamente faz todo sentido do mundo?

Mas daí aqueles dedinhos se apertam novamente na sua mão que a essa altura dos acontecimentos, já não estão mais tão frias e sem qualquer explicação lógica e cabível, simplesmente você abre os olhos.

O que se segue é um misto de felicidade, terror e alguma outra coisa que não se sabe bem explicar. Felicidade porque finalmente você abriu os olhos e pode observar tudo que havia de mais maravilhoso naquela experiência e que você estava perdendo simplesmente porque não queria abrir os olhos. É quando entra o terror, só então você se dá conta de que o medo paralisa, te leva a pensar e até a encontrar razões para justificar suas atitudes! O que é um tanto contraditório eu sei, já que descobriu que o medo paralisa, descobriu também que tem medo de ter medo; mas descobriu também que é preciso sempre ser mais forte do que ele e a reconhecê-lo o quanto antes e a lutar contra ele.

E quanto ao outro sentimento que você não sabe explicar, se resume muito bem naquela mão que está nas suas, naquele sorriso que agora te é oferecido, naquela voz que te fez acordar, na segurança que te foi passada, na fé que te foi depositada e acima de tudo na certeza de que não estava sozinha naquela aventura insana. Esse sentimento tem nome sim, chama-se amizade!

Amizade... sentimento raro, talvez encontrado por alguns poucos sortudos no mundo. Amigo mesmo não tem formula, não pode ser comprado, não vem com etiqueta na testa nem com data de validade. Ele não vai sorrir o tempo todo, nem chorar o tempo todo, tampouco vai te agradar o tempo todo. Muitas vezes ele vai ser o chato que te sacode pra você acordar para a vida, que te força a fazer aquilo que não quer, que briga com você mesmo tendo certeza que vais ficar com raiva dele na hora.

E por que então você acha que justo essa pessoa é tua amiga? Porque só ela é capaz de te ouvir horas seguidas, a mesma conversa mole de todos os dias; porque só ela parece ter bola de cristal pra adivinhar no teu “oi” que, apesar do sorriso, você está morrendo por dentro; porque só ela é capaz de ficar até as 2hs da manhã, mesmo morrendo de sono, só porque você pediu; que tem os ombros molhados de tuas lágrimas e nunca sequer te jogou isso na cara, nem nunca contou pra ninguém.

E se isso não bastar, ela é tua amiga simplesmente porque você a ama e tem certeza que ela também te ama, apesar de vocês serem quem são, com qualidades e defeitos, com dúvidas e inconstâncias, mas acima de tudo: com carinho, devoção, amor e fidelidade!

A roda gigante começa a descer, ela ainda vai dar algumas voltas até chegar ao seu fim, pena porque agora estava começando a gostar da brincadeira; mas feliz, porque em apenas alguns minutos você fez milhares de descobertas sobre você, sobre a vida e sobre como é bom simplesmente estar ali, com tua amiga ao lado!

terça-feira, 15 de maio de 2007

Saudades....


Não é sempre que a gente está disposto a escrever, sei disso tão bem quanto qualquer um que escreve pelos mesmos motivo que eu: pra desabafar, tentar organizar os pensamentos, mas acima de tudo, quem escreve por impulso! Já faz alguns dias que eu estou pensando nessa palavra tão simples e que ao mesmo tempo nos remete a uma profusão de sentimentos no mínimo intensos, confusos e até contraditórios.

O processo é mais ou menos assim: de alguma forma no cotidiano alguma coisa ou alguém se destaca e começa a crescer dentro de mim, tal qual uma bola de neve que rola montanha abaixo aumentando de tamanho cada vez que completa seu ciclo; em certo momento torna-se insuportável guardá-lo por mais tempo e de alguma forma tem que ser expandido, exposto. Como pode ser muito confuso e intenso, tento reduzir a uma palavra apenas, numa tentativa de simplificar algo complexo. Daí eu procuro uma imagem que possa traduzir tal palavra e ao mesmo tempo, que possa me indicar por onde começar a escrever.

Posso pensar em mil coisas, procurar de várias formas diferentes, mas só há uma explosão mental quando os olhos batem Naquela figura; é como se nela residisse todo o mistério que até então não sei explicar nem descrever em palavras. É como se de repente as idéias ficassem claras, abrem-se as cortinas da mente e você percebe que numa das paredes ocultadas pelo breu estava o texto pronto; ele sai como num “vomitado” intenso e de uma vez só. O melhor de tudo é que no final ele não só faz sentido como tenho a sensação de que foi uma das melhores produções que já tinha feito até então.

Não, eu não estou totalmente louca, sei que o titulo ainda não fez o menor sentido, assim como sei que não está interessado num manual de auto-ajuda; nem é esse o meu propósito, mas dessa vez, era importante que o leitor tivesse ciência disso. Porque dessa vez o processo foi rápido e estava (ainda está na verdade) gritando dentro de mim essa simples palavrinha.

Fazem mais ou menos 3 ou 4 dias que uma máxima da sabedoria popular não sai da minha mente “a gente só dá valor ao que tem quando perde”, eu detesto, mas vou ter que concordar dessa vez. Ao contrario do que pode estar pensando, é muito menos mórbido, pelo menos dessa vez! Ninguém morreu nem está nas últimas, nenhum amigo querido ou parente vai se mudar pro outro lado do mundo, também não briguei com ninguém a ponto de cortar relações; apenas estou sentindo falta de algo subitamente retirado do meu dia-a-dia.

Sentimento engraçado esse que é bom e ruim ao mesmo tempo! Parece contraditório eu sei, incompatível, mas não é; muito pelo contrário, os termos dessa contradição caminham de mãos dadas lado a lado. É ruim porque ninguém gosta de ficar longe de quem se ama, ou pelo menos, de quem se gosta muito, é angustiante, frustrante, um horrível sentimento de impotência se aloja em nós e a maior parte do tempo só dá vontade mesmo é de se recolher, ficar deitado quietinho, debaixo de um edredom assistindo filmes no melhor estilo “sessão da tarde” na televisão de preferência comendo pipoca ou tomando vinho. Até que o tempo, que cura todos os males, ou que pelo menos os faz adormecer, agir e transformar esse imenso vazio numa saudade gostosa.

Difícil é olhar pela janela e ver que a cidade é enorme, em algum lugar num daqueles pontinhos brilhantes de luz está a causa de ter saudades, mesmo assim não se pode adivinhar em qual e muitas vezes nem se pode ir em busca dela. Somos martirizados pelo simples fato de sabermos de sua existência. A janela do quarto torna-se ao mesmo tempo amiga e inimiga, confidente e carrasca; mas é através dela que a dor ameniza, ainda que minimamente. Mas nem tudo está perdido...

Por outro lado se há a possibilidade, ainda que remota, de matar essa saudade ela se torna boa, se transforma num outro sentimento chamado esperança, capaz de operar milagres. Passa-se a outro estágio, o da ansiedade (e haja caixa de bombom em casa pra agüentar essa fase!), da euforia de querer fazer tudo ao mesmo tempo, de querer que os minutos passem na velocidade dos segundos e assim por diante. E apesar dele se recusar a passar rápido, quando o momento tão esperado chega, é indescritível e faz valer a pena todo aquele tempo ruim que passou antes (e os quilinhos extras frutos do chocolate).

Um abraço, nada é capaz de vencer tão bem a saudade como o abraço! Sentir o carinho da outra pessoa, o perfume, o calor, tudo o que ele proporciona tão bem apaga qualquer resquício da saudade. A contradição é que não seria assim se não houvesse o afastamento, a dor, a angústia, a ansiedade, o tempo, enfim, se não fosse justamente pela saudade. Estranho pensar nisso, no mínimo confuso; mas é exatamente assim que funciona.

Saudades do que se perdeu, do que nunca se teve, do que poderia ter sido; saudades doída, gostosa, verdadeira, encobridora; de amigos, de amores, de familiares, de tempos, de objetos, de valores... saudades fazem parte daquilo que somos, ajudaram a nos construir; acabei de me dar conta disso. Pra não correr o risco de virar um saudosista e viver de passado e esquecer-se de viver, melhor recorrer às sábias palavras do Poetinha, Vinícius de Moraes: “que não seja imortal posto que é chama, mas que seja eterno enquanto dure.” Ainda que em contextos e matérias diferentes, um de amor e o outro de saudades, as palavras servem; saudades dói, mas o tempo amortece e até apaga, não deixa de ser uma chama em nosso íntimo, e como tal não é forte o suficiente para nos maltratar eternamente.

Fica a reflexão e o desejo de que ela nunca destrua sonhos, mas ao contrário, que ela seja motivadora e sirva de alicerce para vôos ainda mais altos e mais bonitos.